29/08/11

Dia 9 - As Avarias

22 de Agosto, 2011
Blantyre, Tanzânia

Antes de começar a falar do dia de hoje, queria apenas partilhar convosco que a carne ontem estava deliciosa. Extremamente deliciosa.

Passando então a coisas sérias, para hoje estavam prometidos 660km até Blantyre, a capital do Malawi e pelo caminho tínhamos direito a um almoço buffet na segunda maior cidade do país, Lilongwe. As velas já tinham sido limpas ontem à tarde, portanto foi só carregar as malas e partir.

Depois de três dias nas estradas da Tanzânia, conduzir no Malawi é uma maravilha. Não há trânsito, as estradas estão em boas condições e livres dos assassinos Dalas Dalas. O único problema até ao momento deve-se a uma greve dos transportadores de combustível que obrigou ao fecho de todas as bombas de gasolina. Felizmente a organização conseguiu um acordo com a BP e há no percurso sítios específicos para se abastecer, um deles à saída de Mzuzu onde enchemos o depósito.

Tudo corria bem, já íamos com 2 horas de viagem quando de repente se ouviu um barulho vindo da traseira do carro e pensei que tínhamos furado um pneu. Parámos e fui dar uma volta ao carro a tentar ver qual seria o pneu, para meu espanto estavam todos direitos. Não vendo nada demais decidimos arrancar. Ao fim de 50 metros o carro parecia esquisito e olhei pelo retrovisor e via fumo branco a sair do pneu traseiro direito. Voltamos a parar o carro e atrás de nós apareceu outro concorrente que ao ver o fumo saiu logo de extintor em punho para tentar apagar o que quer fosse. Não havia chamas, apenas um fumo branco e um cheiro a borracha queimada. Alguma coisa teria de ser. Toca a tirar o macaco da mala, levantar o carro e tirar o pneu (que parecia intacto). À primeira vista tudo estaria normal, pensou-se que o problema seria dos travões, quando decidi ir ver o pneu do lado esquerdo e reparei que algo não estaria bem: ou faltava uma peça do lado esquerdo ou estava uma peça a mais no lado direito. Ficamo-nos pela segunda hipótese e o que estava a mais era o amortecedor que partiu o parafuso de apoio e andava a passear junto à roda (o que também explica o fumo branco: era o plástico de protecção do amortecedor que derreteu em contacto com o pneu). Por sorte acabou por parar um outro concorrente, Rob Kitchen, que ensinou/ajudou a retirar o amortecedor e disse que podíamos fazer alguns quilómetros sem problemas de maior.

Seguimos caminho, parámos em Lilongwe para o nosso almoço e abastecer. Lilongwe é uma cidade nova, com grandes avenidas e também a capital administrativa do Malawi. Em 1998 o Parlamento do país instalou-se num palácio presidencial com cerca de 300 quartos, mandado construir por Hasting Banda, usando fundos estatais e com um custo de 100 milhões de dólares. Já em 2004 e 3 meses após ter sido eleito, o presidente Bingu wa Murtharika converteu o edifício novamente em palácio presidencial e instalou o Parlamento num antigo estádio. O ano passado foi inaugurado o actual edifício que custou 40 milhões de dólares. Quem vê estes valores e passeia pela realidade do país percebe que alguma coisa não está bem.

De estômago cheio fizemo-nos à estrada, ainda sem amortecedor, o que segundo o condutor tornou o carro mais solto e mais rápido. Começou-se então a raciocinar se seria melhor viajar com ou sem o amortecedor. Ainda faltavam 313km e a chegada a Blantyre seria por volta das 17h o que complicava as possibilidades de se arranjar um mecânico. Para complicar mais a coisa, depois de pararmos numa barreira policial (aqui em vez de se realizarem operações stop, estão distribuídas pelas estradas do país barreiras da polícia, do exército e dos serviços alfandegários) o carro não desenvolvia e parecia que estava a travar permanentemente. Hoje parecia que estava tudo contra nós!!

Pensou-se que seriam as velas novamente mas isso só explicaria o porquê de o motor não andar mais rápido, não o porquê de o carro estar a travar. Depois de parármos, levantamos o carro, tiramos a roda traseira esquerda e quando o meu pai se preparava para desmontar o travão traseiro apareceu novamente o Rob. Depois de um rápido diagnóstico chegamos à conclusão que ao se usar o travão de mão na barreira policial, os travões bloquearam e prendiam as rodas. Foi algo simples de resolver, sangrou-se os travões e, segundo consta, o carro está agora mais rápido que nunca (se calhar por estarmos quase sem travões).

Como não há duas sem três, estávamos a menos de 100km de Blantyre e fomos mandados parar por excesso de velocidade. Ao que consta, metade do Rally apanhou esta multa, pois ninguém estava prevenido que pudessem haver radares na estrada, depois de quase 800km sem polícia.

Chegamos quase em cima do tempo a Blantyre mas depois do dia de hoje, quase que se pode dizer que é um milagre estarmos aqui.

Até amanhã

1 comentário:

  1. Ahahaha que medo!!! (Piada: Acho que começas a ceder à opinião de que comprar um jipe de um dia para o outro pode não ser uma ideia tãaao estapafúrdia:P) Vai tudo correr bem!!!! :))) Estás a ficar um mecânico profissional!

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