27/08/11

Dia 8 - A Fronteira

21 de Agosto, 2011
Mzuzu, Malawi

Hoje, pela primeira vez desde que me lembro das coisas, passei uma fronteira terrestre à moda antiga: parar no posto fronteiriço do país de partida, preencher os papéis, entrar no carro, passar a barreira, parar no posto fronteiriço do país de chegada, preencher os papéis de entrada, entrar novamente no carro e seguir viagem. Mas já lá vamos.

A noite foi realmente mal passada, a cama não era muito confortável e ao longe havia uma festa onde a música insistia em entrar no meu quarto. Infelizmente o BBQ não ajudou a uma boa noite de sono, nem tão pouco o pequeno almoço que foi servido esta manhã. Ainda antes da partida optou-se por limpar as velas do carro, primeiro porque o motor estava a perder o fulgor que demonstrara no primeiro dia e segundo porque este tem sido um problema recorrente nos outros Volvos portugueses. Era então preciso ir buscar a chave de velas.

Não imagina a trabalheira que dá ir-se buscar a mala de ferramentas que está por baixo do único espaço disponível que tenho para por o meu pequeno saco e a mochila da máquina fotográfica, atrás do meu banco! E perguntam vocês: mas o carro não tem mala? Ter tem mas lá dentro encontramos 1x depósito de gasolina, 1x macaco, 2x pneus sobresselentes, 2x jerricans para água e mais gasolina, 2x calços para pôr nos pneus e 1x tábua de madeira que ainda não percebi para que serve (se isto fosse uma cozinha seria sem dúvida uma tábua de cozinha). Com tudo isto na mala, o sacrificado sou eu que tenho de andar a tirar e a pôr tudo sempre que é preciso apertar um parafuso.

Velas limpas, motor ligado, partida dada e lá vamos nós para mais uma etapa, hoje foram 370km até Mzuzu, no Malawi. A estrada até à fronteira é muito bonita, passeando-se pelo meio de colinas e pequenos vales, todos eles com plantações de chá. As vilas aqui mantém-se afiliadas às redes de telemóveis e as motos continuam a ser mais que muitas. A meio caminho entre o "hotel" e a fronteira o carro voltou a demonstrar problemas no motor e o condutor optou por mudar as velas, colocando as primeiras que teve. O procedimento foi idêntico ao da partida: pôr as minhas malas no chão, tirar a mala das ferramentas, trocar de velas e voltar a arrumar tudo. Volta-se a ligar o carro e ele nem 1 minuto esteve a funcionar antes de se decidir a pôr as velas antigas. Repete-se novamente o mesmo procedimento, as minhas malas voltam a sair do carro, etc. Felizmente as velas aguentaram-se até ao fim do dia.

Antes da fronteira temos uma pequena cidade e mal parámos o carro fomos abordados por 30 indivíduos, todos eles a quererem trocar os nossos xelins por kwachas (a moeda oficial do Malawi), dizendo que é um favor que nos fazem porque do lado de lá os xelins não valem nada. Nada feito, até porque não nos restavam xelins. Confesso que esperava um pouco mais de acção na fronteira, mas foi tudo tão semi-ordenado (felizmente) que me soube a pouco. No final levei mais dois carimbos no passaporte (começo a parecer um viajante a sério).

Percorridos pouco mais de 10km no Malawi e foi possível ver logo o lago Malawi (é o terceiro maior lago de África e ocupa 20% do território do Malawi). Não soubesse que estava a dirigir-me para o interior de África e diria que estava a chegar ao Índico ou ao Mediterrâneo. A paisagem nesta estrada é deslumbrante, com a água do lago num azul intenso, contrastando com o verde da paisagem e o alaranjado das montanhas. A contrastar também esta a realidade da vilas e aldeias da Tanzânia com as do Malawi. Aqui tudo parece mais pobre, as motos dão lugar às bicicletas e deixa-se de ver carros nas estradas, dando lugar a alguns camiões com que nos cruzamos de tempos a tempos. Apesar disso, a estrada tem boas condições e as populações parecem ser mais simpáticas, acenando e sorrindo à nossa passagem.

Mzuzu é a terceira cidade mais importante do Malawi, com cerca de 1,8 milhões a viverem nela e nas suas imediações. O hotel onde estamos é bastante melhor que o da noite passada, sendo fácil prever uma boa noite de sono. O jantar é daqui a pouco e está no menu outro BBQ.

Até amanhã

3 comentários:

  1. Quando um carro atola, por vezes, ajuda por uma prancha ou tábua por baixo das rodas para ganhar tracção... :P

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  2. Não quero que o carro avarie mais :(

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