01/09/11

Dia 11 - Um Espaço Perdido

24 de Agosto, 2011
Parque Nacional da Gorongosa, Moçambique

Esta manhã fui recebido ao sair do quarto por um babuíno que por ali passava. Para perceberem melhor o enquadramento, não estamos hospedados num hotel mas sim em diversas cabanas naquilo que em tempos foi o campo de Chitengo. Apesar do campo estar vedado alguns animais menos envergonhados passeiam-se (sempre a uma margem de segurança) pelo campo procurando comida. Durante o almoço foi possível observar uma família de javalis a passarem à nossa frente e irem beber água a um bebedouro perto da piscina.

A seguir ao pequeno almoço fui dar uma pequena volta pelo campo para tentar ver se apanhava algum animal mas tirando a família de javalis nada feito. Aqui a partir das 9h fica muito calor e a maioria dos animais retiram-se e procuram a sombra das árvores até o sol se pôr. Chitengo e o Parque da Gorongosa foram muito afectados pela guerra civil que se iniciou após a independência. Até essa altura este Parque era dos mais importantes em África, reconhecido em tudo o mundo pela sua abundância de fauna e recebeu muitos visitantes famosos, incluindo John Wayne e os astronautas da missão Apollo.

O Parque foi criado na década de 20 com o intuito de ser uma reserva de caça para a empresa Mozambique Company e em 1960 foi tornado Parque Nacional pelo governo português. Começou com apenas 1000 km², sendo que na década de 60 já se estendia por 5300 km² (actualmente creio que tem cerca de 25000 km²). O que marca a diferença entre os tempos áureos do Parque e o seu actual estado é a fauna. Vejamos os números:

Observações aéreas realizadas em 1976, portanto após a independência, demonstraram que viviam no Parque cerca de 6000 elefantes, 500 leões, 3500 hipopótamos, mais de 400 espécies de aves, 1800 búfalos, 2900 waterbucks e inúmeras manadas de outros animais como rinocerontes, impalas, zebras e outros. O Parque fechou em 1982 devido à guerra civil entre a Frelimo e a Renamo que durou até 1992. Em 1996 voltaram-se a realizar observações aéreas e apenas encontraram 19 elefantes, 13 búfalos, 10 hipopótamos e nenhum rinoceronte! Leões, chitas, leopardos e wild dogs desapareceram também. Apenas restaram os javalis e crocodilos. Chocante!

Depois do almoço participei num Game Drive numa tentativa de explorar as maravilhas do Gorongosa. O parque é realmente fantástico, aqui a paisagem assemelha-se mais à África dos domingos de manhã, que passa na Sic, com grandes savanas planas e poucas árvores. No que se assemelha em paisagem peca nos animais É visível a falta deles e ao mesmo tempo é fácil de imaginar as planícies de aluvião cheias de manadas de herbívoros a deslocarem-se em busca de novas e verdes pastagens. O nosso motorista, o Adolfo, levou-nos a um ponto elevado onde era possível ver de um lado o pôr-do-sol e do outro os animais a deslocarem-se na planície. Foi simplesmente mágico.

A Gorongosa foi um espaço que se perdeu e o futuro não parece animador, os caçadores furtivos continuam a entrar no Parque e companhias chinesas de exploração mineira que se encontram junto à Gorongosa estão a dar cabo do ecossistema. No entanto acredito que a Natureza consegue dar a volta e que o Parque vai recuperar a riqueza de antigamente.

Até amanhã

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