13/09/11

Dia 19 - A Montanha

1 de Setembro, 2011
Maseru, Lesotho

Acordar e ver uma boa paisagem é sempre bom. Acordar e ver as montanhas de Drakensberg é fantástico! O aspecto cinematográfico de ontem à tarde mantém-se e cada elevação agora brilha com os primeiros raios de sol dando uma sensação de nada ser real. Parece um cenário que está montado por detrás da minha mesa do pequeno-almoço. Surreal era também o pequeno-almoço, tal era a variedade e qualidade dos produtos oferecidos. Foi sem dúvida dos melhores que já foram servidos nestas últimas semanas e aproveitei para levar umas bananas para se ir comendo durante o dia.

Logo à saída do hotel tínhamos à nossa espera uma secção especial cronometrada. No início tudo corria bem, mas acabou por ser um desastre aqui para o "24". Mais ou menos a meio da prova, e depois de já termos feito um meio peão numa curva, o carro escorregou e foi até à berma. Por sorte não batemos em nada, mas para mim estava a parecer perigoso demais para um passeio de clássicos. Acabamos por chegar ao fim com 2 minutos de penalização (o que não foi muito quando comparado com os outros carros) e um pneu furado (só descobrimos no fim, mas provavelmente furou quando o carro fugiu para a berma). Mudar o pneu foi tudo menos complicado, a experiência adquirida com os problemas na suspensão e travões tornou-me um especialista em trocar pneus.

Decididos a poupar o carro para os 4 dias que faltam embarcamos numa viagem/passeio pelas montanhas. Seguindo devagarinho foi possível continuar a apreciar a paisagem até Maseru, a capital do Reino do Lesoto. Passamos a fronteira sem qualquer problema, apenas foi preciso preencher o típico papel a informar quem somos, de onde vimos e para onde vamos. A organização tinha preparado um almoço num restaurante que se situava no topo de uma montanha e nós estávamos a caminho quando... acabou a gasolina. Era uma situação que eu já esperava, sendo que desde de Moçambique o meu Pai só metia a gasolina estritamente necessária para se chegar a uma outra bomba de gasolina, ao contrário de toda a gente, que mal podia enchia o depósito. Pelas contas dele teria tudo dado certo, não fosse a bomba de gasolina escolhida estar fechada e então, 40 km depois (como podem ver estava tudo contado à gota) o carro deu de si. Por sorte vinha atrás de nós o Daniel Schoch que estava (obviamente) precavido com dois jerricans cheios do precioso líquido. O que mais me custou não foi o estar parado à espera de alguém que nos arranjasse a gasolina, mas sim o facto de termos perdido o almoço por causa disso!



Até amanhã

09/09/11

Dia 18 - Uma Nova África

31 de Agosto, 2011
Cathedral Peak, Drakensberg Mountains, África do Sul

Hoje voltou-se a acordar cedo. Tão cedo que saímos antes do pequeno almoço ser servido. Pela frente tínhamos duas fronteiras e mais de 600km para fazer. À partida do Kruger, foi possível ver uma família de girafas que tomava o pequeno almoço perto da estrada, para entusiasmo de todos os participantes e para mim uma última boa impressão do Parque.

As duas fronteiras que cruzamos foram para entrar e sair da Suazilândia (acho que nunca passei tão pouco tempo num país), apenas para percorrer 180km. Não ocorreram quaisquer problemas, as fronteiras tinham pouca gente e em 30 minutos estava tudo tratado. Dos 180km que percorri neste pequeno reino, os primeiros 40km eram campos agrícolas, 100km de reservas naturais e os últimos 40km eram novamente campos agrícolas. Duas horas depois de entrarmos, estávamos a sair. Embora a nossa passagem fosse curta, tive tempo para ler um pouco sobre a história do reino da Suazilândia. Nunca imaginei que este pedaço de terra fosse reconhecido como um reino independente desde o século XIX e que desde sempre se manteve à parte dos grandes conflitos na região da África do Sul.

Ao entrarmos novamente em território sul africano estávamos já distantes da savana do Kruger e dos terrenos cultivados da fronteira. Aqui as planícies, colinas e pequenos montes, característicos desde Dar Es Salaam, dão lugar a montanhas majestosas e vales enormes. Estamos nas montanhas de Drakensberg, uma famosa região montanhosa sul africana, procurada por amantes de hiking e natureza. O roadbook informa que terá sido nesta região que J.R.R. Tolkien terá passeado e inspirado para a criação da sua Terra Média. O nosso hotel localiza-se no fim de uma estrada, no meio das montanhas, e tem o Cathedral Peak nas traseiras, o que lhe dá um aspecto cinematográfico quando se chega de carro. Segundo o porteiro algumas das montanhas estavam cobertas de neve até cerca de duas semanas atrás e hoje é possível vislumbrar pequenos pontos onde o gelo persiste. É também o ponto de partida para muitos dos trilhos usados pelos hikers e a julgar pelas fotografias expostas no lobby, promete experiências únicas.

À noite ficou frio e pela primeira vez desde que estou neste continente vesti o polar. Só agora, e apesar de estar todos os dias a contar quilómetros no carro, me apercebi que estou a ir para Sul, que estou a deixar o calor dos trópicos. O dia de hoje foi bem comprido, acordamos cedo, passamos por duas fronteiras, percorremos quase 700km e terminamos num hotel confortável, amigável e num local privilegiado. Isto é uma nova África e tal como a anterior, também começo a gostar dela.

08/09/11

Dia 17 - A Vida na Savana

30 de Agosto, 2011
Kruger Park, África do Sul

O acordar hoje foi um bocado complicado: talvez por saber que só irei descansar novamente daqui a uma semana ou talvez pela cama do Polana ser fantástica. O que é certo é que custou a levantar e entrar novamente no carro. Hoje foi o dia mais curto da prova, com apenas 130km para fazer entre Maputo e o Kruger Park, na África do Sul. A viagem acabou por decorrer sem problemas, apesar de pelo meio termos a fronteira. Do lado moçambicano 1200 meticais pouparam-nos de uma fila enorme e no lado sul-africano a eficiência de um país mais evoluído tratou do resto.

Após se cruzar a fronteira fica uma sensação de se estar a deixar África para trás e de estarmos a entrar num espaço completamente diferente. Os últimos quilómetros em Moçambique deixam uma imagem pobre do país, casas em adobe, sem eletricidade e num ambiente semi-árido. A África do Sul é o oposto. Após se cruzar a fronteira somos carregados (visualmente) com campos plantados, placares de publicidade, diferentes tonalidades de verde, ruas arranjadas e carros de outras marcas que não a Toyota. Foi também preciso chegar à África do Sul para perceber que aqui o Sol não passa pelo Sul, mas sim pelo Norte.

A pouco mais de 30km da fronteira entramos no Kruger Park, uma das mais famosas reservas de vida selvagem em África. O parque permite a circulação de veículos, mantendo as suas estradas em óptimas condições, e permitindo aos que por lá passam cruzarem-se com elefantes, girafas, rinocerontes, impalas, entre outros. Ao chegarmos ao nosso lodge foi-nos servido um almoço óptimo e durante a tarde fomos fazer outro game drive. Sempre ouvi falar que o Kruger era um dos melhores lugares para se fazer safaris, com uma variedade imensa de animais e, sobretudo, fáceis de se encontrar. Confesso que com essas expectativas e as óptimas experiências do Selous, preparei-me para algo que nunca aconteceu! Aqui os jipes não podem sair dos trilhos, a paisagem era desoladora, parecia que estávamos a atravessar um deserto, e os poucos animais que vimos estavam muito ao longe. Grande parte do percurso era junto à fronteira do parque com terrenos cultivados sul-africanos, o que me deu mais a sensação de que nada daquilo era genuíno. Por certo estou a ser demasiado exigente, mas este era o meu terceiro game drive em duas semanas e não gostei nada (o Kruger é um parque enorme e portanto poderei ter estado na sua pior parte, acredito que haja melhores locais que este). Selous vale por uma experiência única como estar a 1 metro de leões a cometem um búfalo e a Gorongosa vale pelas paisagens fantásticas.

O factor mais positivo deste desvio ao Kruger foi o alojamento. Era dividido em tendas e decoradas num estilo colonial. Não fosse a eletricidade e estaria como no início do século XX. O campo era muito pequeno e alberga 10 pessoas no máximo (o grupo inteiro dividiu-se por 3 acampamentos diferentes). O edifício principal era também uma tenda, dividida em sala de jantar, estar e cozinha, com uma varanda fantástica sobre a savana. No fim do almoço apareceu um elefante junto à varanda e por lá ficou a deliciar-se com umas folhagens, enquanto se deixava fotografar por 10 humanos.

Até amanhã

07/09/11

Dia 16 - O Colonialismo

29 de Agosto, 2011
Maputo, Moçambique

Hoje foi o último dia de descanso até chegarmos à cidade do Cabo. O dia acordou cinzento, tal como ontem, o que descartou a possibilidade de um dia na piscina. O meu Pai acabou por ir com o carro a um mecânico, ver se conseguia resolver de vez o problema no amortecedor, e eu fiquei-me pelo hotel.

A meio da manhã fui com um grupo de outros participantes no rally a um jardim a cerca de 200 metros do Polana, onde estava a decorrer uma feira de artesanato moçambicano (ou africano). As principais peças que por lá se vendiam eram estátuas de todos os feitios e tamanhos, feitas em pau preto embora a maioria aparentasse tratar-se de madeira normal com uma boa dose de graxa por cima. Havia por lá dois ou três indivíduos que estavam realmente a trabalhar em madeira, mas será tudo marketing? Pelo que se diz a China é um dos maiores produtores de artesanato africano, chegando mesmo a ter melhor qualidade que os verdadeiros produtos. Depois de ver dezenas de tipos a venderem o mesmo tipo de estatuetas, tabuleiros ou colares, concluo com muita tristeza que esses boatos serão verdadeiros, e que haverá um grande armazém chinês nos arredores de Maputo que abastece todos estes tipos com artesanato made in China. À hora do almoço foi a vez de provar uma feijoada, feita no hotel a pedido do Giancarlo (um participante italiano que é louco por feijoada) e estava óptima.

Da parte da tarde o grupo português arranjou 2 táxis e foi explorar a baixa da cidade, onde aproveitei para apreciar um pouco mais do colonialismo português. A nossa primeira paragem foi a estação de comboio de Maputo, inaugurada em 1910, e considerada pela revista Travel&Leisure uma das mais bonitas do mundo. Este edifício funciona também como um pequeno museu, onde estão expostas duas locomotivas importantes para a história dos caminhos de ferro moçambicanos. A paragem seguinte foi o mercado municipal. Actualmente funciona no exterior do edifício, que se encontra em reparações depois de um incêndio ter destruído uma parte, e é tudo o que se pode esperar de um mercado africano. É confuso, um pouco sujo, com muita gente e, acima de tudo, divertido. Logo à entrada estão as peixeiras, quase em cima da rua e com os peixes pousados em balcões cinzentos, sem qualquer tipo de refrigeração ou gelo. Quanto mais nos embrenhamos no mercado mais confuso fica, tendo de um lado um tipo a vender cestos, do outro uma frutaria e em frente o tipo da hortaliça a regar as couves para lhes dar um ar de frescura. Temos também a zona das perucas, os quiosques de produtos de beleza, balcões de pronto a comer (onde é mais provável uma desinteria que uma refeição saudável) e gaiolas com pássaros. É um autêntico labirinto de cores, cheiros e sons.

Vivos e com aparente boa saúde chegamos ao hotel e de banho tomado fomos jantar ao famoso restaurante Costa do Sol, um local icónico em Maputo, onde comi os melhores camarões de sempre. Simplesmente deliciosos. Mas como tudo o que é bom acaba rápido, lá se foi o dia de descanso e amanhã é dia de acordar cedo.

Até amanhã

04/09/11

Dia 15 - A Capital

28 de Agosto, 2011
Maputo, Moçambique

Esta noite choveu. Não foi uma "murrinha" como na Gorongosa nem uns chuviscos como no Kilimanjaro, mas sim a minha primeira chuva africana. A julgar pelo som que se sentia na minha cabana sobre o mangal parecia uma tempestade tropical, mas de manhã deu para ver que foi uma chuva como outra qualquer.

Ainda antes de deixarmos Inhambane percorremos as ruas da cidade, em busca de uma bomba de gasolina, e pude ver alguns exemplos da arquitectura colonial portuguesa, como é o caso do cine-teatro tofo (fotografia a publicar quando conseguir). Lá encontramos a estação de serviço e com o depósito cheio era então altura de partir para a capital de Moçambique, Maputo. A viagem correu bem, a estrada é bastante boa, passando por algumas povoações como a vila Piri-Piri (nome dado por mim a uma vila cuja especialidade é a venda de Piri-Piri, tal é a quantidade de bancas a venderem tal produto) ou a aldeia dos Cajús (nome dado por mim pelas mesmas circunstâncias). O mercado ou a venda de rua, em especial aos condutores, é uma realidade engraçada nesta parte de África. Já passei por pessoas a venderem de tudo aos carros que passam, desde galinhas e cabras, a piri-piri, cajú, fruta, carvão, gasolina engarrafada, etc. Toda e qualquer pessoa que passa é uma oportunidade de negócio. Se há assim tanta gente a parar não sei (parámos por uma vez para comprar um saco de cajú), mas é certo que já vi muitos camionistas a levarem cabras vivas e presas aos atrelados.

A meio do caminho fica uma pequena vila chamada Xai-Xai (nome dado por outra pessoa qualquer) e que segundo o meu Pai era nos anos 60 e 70 uma espécie de Cascais. Hoje em dia o centro da vila continua bem preservado e em funcionamento, mas a zona da praia está totalmente degradada. Foi também preciso chegar a Xai-Xai para ver pela primeira vez em África um dos símbolos do mundo ocidental, o fast-food, e neste caso específico um KFC. É sempre bom quando encontramos algo que nos é familiar. Ao entrar nos arredores de Maputo encontrei uma realidade da do resto de Moçambique, o trânsito. Nas estradas do interior é inexistente, no litoral há sobretudo camiões e autocarros e em Maputo há de tudo. Demorou bastante até conseguirmos ultrapassar a circular e entrarmos no centro da cidade. Para auxiliar a confusão, a capital vai receber dentro de uma semana (começa dia 3 de Setembro) os Jogos Africanos, uma espécie de jogos olímpicos mas para os países africanos. É certamente um evento importante e poderá revelar-se uma oportunidade para Moçambique mostrar as suas qualidades.

Finalmente chegamos ao Polana, o mais famoso hotel de Moçambique e, quando foi construído nos anos 20, um dos melhores hotéis da Europa. Embora tenha sofrido obras de restauro nos últimos anos, manteve a fachada original e por dentro a decoração é bastante elegante. Um pouquinho mais de glamour e certamente transportaria os seus hóspedes no tempo até aos anos 40, 50 e 60. Não é difícil imaginar este edifício como sendo um ponto de encontro de pessoas famosas que visitavam África.

02/09/11

Dia 14 - O Purgatório

27 de Agosto, 2011
Inhambane, Moçambique

Esta manhã deixamos o Paraíso. Ficou a vontade de voltar, pois como seria de esperar todos nós queremos sempre o melhor. Apanhamos então o avião e voamos de volta a Vilanculos. De volta ao "mini-aeroporto do Porto" lá estava o nosso Volvo à espera. O nosso destino de hoje era o hotel Flamingo Bay em Inhambane, outra cidade costeira e que recebeu o seu nome com a chegada do Sr. Gama, em 1498, significando "Terra da Boa Gente". Pelas fotografias disponíveis na internet, antevia-se outro encontro com o Paraíso, mas chegando lá foi como ficar a um passo do céu.

Pelo caminho passamos pelo trópico de Capricórnio (outra estreia para mim), é engraçado como até aqui, no meio de África, isso está marcado na estrada. Curiosamente, já tinha reparado no Malawi a presença de placas castanhas junto à estrada, informando os viajantes que se encontravam perto de património cultural/arqueológico/arquitectónico, tal e qual como em Portugal. Infelizmente os horários são muito apertados e não temos tempo para parar ou fazer desvios. Certamente que passamos por lugares únicos e/ou marcos importantes para a história da Humanidade. O roadbook contém algumas informações sobre os locais onde vamos passando (e que eu tento transmitir aqui), o que me vai satisfazendo o meu bichinho curioso.

Chegando a Inhambane encontramos uma cidade com traços do colonialismo português na sua arquitectura. A vila desenvolveu-se numa espécie de península, junto à baía de Inhambane, e o nosso hotel encontra-se sobre a água. Ou pelo menos assim parecia na internet. Na realidade é sobre um mangal, uma espécie de pântano, que se regula pelas marés e deixa um aspecto desolador na maré vaza. O tempo também não ajudou, visto que estava um vento forte, desencorajador a qualquer tipo de banho durante a maré alta. No entanto tem piada a maneira de como o hotel está organizado, têm o edifício principal na costa e depois umas passadeiras com cerca de 100 metros sobre o mangal encaminham-nos aos quartos. Nestas passadeiras circulam uns carrinhos de Golf que ajudam os hóspedes a fazer a travessia. À noite teve lugar um jantar no edifício principal, onde o meu Pai e eu ganhamos uma medalha pelo nosso tempo na secção especial à saída da Gorongosa.

Deixar o paraíso nunca deve ser fácil para ninguém, para mim, o dia de hoje foi como descer ao purgatório.

Até amanhã

Dia 13 - Um Dia no Paraíso

26 de Agosto, 2011
Ilha de Bazaruto, Moçambique

Começo por vos perguntar, como acham que é passar um dia no Paraíso? Já formaram a vossa ideia? Então vou vos contar como foi o meu.

Ao acordar o céu estava cinzento e pouco convidativo à praia (durante o dia o sol furou as nuvens e melhorou). O pequeno almoço estava óptimo com uma grande variedade de pastelaria, panquecas, ovos (mexidos, esfalfados, cozidos e estrelados), salsichas, feijão, fruta e sumos naturais. Apenas ficaram a faltar os famosos camarões na chapa, mas ainda tinha o almoço e o jantar para os deliciar.

Depois fui dar uma vista de olhos pelas diversas actividades que o hotel tem disponível a ver se escolhia alguma coisa. A variedade é imensa, desde passeios a cavalo, pesca em alto mar, caça submarina, passeios de barco, cayak, gaivotas, mas fiquei-me por uma máscara e um par de barbatanas para um eventual snorkelling em frente ao hotel. Apesar de o tempo ainda não ser o ideal, pus protector e fui até à praia ler um novo livro oferecido pelo meu Pai, "Drawn from the plains" de Lynne Tinley, e retrata a história dela e do marido que viveram durante alguns anos no Parque Etosha, Namíbia, e mais tarde mudaram-se para a Gorongosa. Quando os primeiros raios de sol espreitaram, foi altura de ir experimentar a água e aproveitar a maré vaza para procurar um dos meus animais marinhos favoritos, o São Bernardo Ermita. Estes pequenos animais (crustáceos?) procuram por conchas abandonadas e depois acabam por viver nelas. São verdadeiros "ocupas". Começou então a cheirar a camarão na grelha, o que indicava que o almoço estava pronto. Era um buffet e estava fantástico. Tinha tudo, desde pizza a salada de queijo feta. Desconfio que este é um passeio gastronómico disfarçado de rally de clássicos!

Da parte da tarde decidi-me então a experimentar a máscara e as barbatanas, e seguindo os conselhos do empregado que mas emprestou, fui à procura de um poço onde poderia encontrar alguns peixes interessantes. Tirando os recifes, que se encontram a cerca de 200 metros da costa, o poço revelou-se uma excelente alternativa. Trata-se de uma depressão na areia, mesmo em frente ao meu quarto, e que tem no seu interior o que será os restos de um pequeno barco. Não tinha todos aqueles peixes tropicais característicos dos corais, mas acabei por encontrar peixes bonitos. Alguns tinham umas riscas azul-néon, outros eram daqueles grandes, gordos e feios que estão sempre junto ao chão. Para os restos de um barco não estava nada mal. Vi também um coral, num tom azul-néon, e o que me pareceu ser um peixe-leão, mas também não fiquei para confirmar, pois é venenoso! Ao sair de água o céu já estava limpo e deu para aproveitar uns banhos de sol até ao fim do dia.

O jantar foi novamente buffet, com mais camarão à mistura, e também algum dos peixes que foram pescados de manhã por participantes do rally. Estava delicioso! Chegou então a hora de ir para a cama, que amanhã cedo tenho de apanhar um avião para o mundo real novamente.

E agora pergunto, como seria o vosso dia no Paraíso?

Até amanhã

01/09/11

Dia 12 - A Ilha

25 de Agosto, 2011
Ilha de Bazaruto, Moçambique

Esta manhã fomos acordados com uma leve "murrinha" (ou "morrinha"), tal e qual aquela que por vezes se mostra nas manhãs do Porto. Foi agradável pois impediu que ficasse muito calor rapidamente e também ajudou a reduzir o pó na estrada. Logo após o portão do parque tivemos direito a uma secção especial cronometrada, para "matar o bicho" das corridas. Correu bem e acabamos por conseguir o melhor tempo da nossa categoria, que são 4 carros apenas, mas um primeiro lugar é sempre um primeiro lugar!

O nosso objectivo de hoje era chegar ao aeroporto de Vilanculos, uma cidade à beira-mar e que ficava a 460km da Gorongosa. Felizmente não houve avarias e foi possível desfrutar da paisagem. Ao longo do caminho são perceptíveis algumas diferenças entre o interior de Moçambique e o seu litoral. Desde logo a paisagem que começa a perder o seu aspecto árido de savana e passa a ser mais húmido, com maiores terrenos cultivados, muitas bananeiras e também as primeiras palmeiras. Ao nível humano também há um melhoramento, as aldeias são maiores, com melhores casas (novamente vendidas às redes de telecomunicações), vêem-se mais motos, carros e camiões, e as pessoas parecem adoptar um estilo mais urbano e menos rural. Desde Dar es Salaam que não via o Índico e ao chegar a Vilanculos foi bom vê-lo de novo.

Ver o aeroporto de Vilanculos é como olhar para um desenho onde só estão frutas e ver lá um legume: não encaixa no ambiente em que está inserido. É totalmente novo, inaugurado à uns meses e construído por chineses (eles estão em todo o lado em África). Por fora é como uma escala minúscula do aeroporto do Porto, possui o mesmo género de arquitectura, moderna e branca. Como tínhamos de apanhar um avião para a ilha de Bazaruto e o aeroporto ainda não tem computadores (!?) o check in foi feito à mão (inédito para mim). É esquisito descrever como funciona o aeroporto mas imaginem como algo moderno e onde os funcionários fazem as coisas porque vêem fazê-las no estrangeiro. É uma sensação difícil de transcrever aqui. De qualquer forma, com o check in feito entramos numa avioneta para irmos até à ilha.

A viagem é rápida, cerca de 20 minutos, e visto do céu parecia que estava a ser levado para o Paraíso. A vista é simplesmente fenomenal. Tenho muita pena de não conseguir neste momento colocar fotos aqui (não as consigo editar e baixar o tamanho), mas acho que nem uma boa fotografia consegue fazer justiça à beleza que se vê de cima. Ao chegarmos fomos recebidos com uma limonada caseira e um almoço buffet, onde destaco os camarões. De resto foi o prato principal nas minhas refeições de hoje, camarão grelhado em chapa e com um bocadinho de limão. Que maravilha! A praia de areia branca e água azul turquesa,convidou-me a passar lá a tarde e eu aceitei. Estou rendido aos encantos desta ilha. É um paraíso na Terra. E eu estou nele durante dois dias!

Até amanhã



Dia 11 - Um Espaço Perdido

24 de Agosto, 2011
Parque Nacional da Gorongosa, Moçambique

Esta manhã fui recebido ao sair do quarto por um babuíno que por ali passava. Para perceberem melhor o enquadramento, não estamos hospedados num hotel mas sim em diversas cabanas naquilo que em tempos foi o campo de Chitengo. Apesar do campo estar vedado alguns animais menos envergonhados passeiam-se (sempre a uma margem de segurança) pelo campo procurando comida. Durante o almoço foi possível observar uma família de javalis a passarem à nossa frente e irem beber água a um bebedouro perto da piscina.

A seguir ao pequeno almoço fui dar uma pequena volta pelo campo para tentar ver se apanhava algum animal mas tirando a família de javalis nada feito. Aqui a partir das 9h fica muito calor e a maioria dos animais retiram-se e procuram a sombra das árvores até o sol se pôr. Chitengo e o Parque da Gorongosa foram muito afectados pela guerra civil que se iniciou após a independência. Até essa altura este Parque era dos mais importantes em África, reconhecido em tudo o mundo pela sua abundância de fauna e recebeu muitos visitantes famosos, incluindo John Wayne e os astronautas da missão Apollo.

O Parque foi criado na década de 20 com o intuito de ser uma reserva de caça para a empresa Mozambique Company e em 1960 foi tornado Parque Nacional pelo governo português. Começou com apenas 1000 km², sendo que na década de 60 já se estendia por 5300 km² (actualmente creio que tem cerca de 25000 km²). O que marca a diferença entre os tempos áureos do Parque e o seu actual estado é a fauna. Vejamos os números:

Observações aéreas realizadas em 1976, portanto após a independência, demonstraram que viviam no Parque cerca de 6000 elefantes, 500 leões, 3500 hipopótamos, mais de 400 espécies de aves, 1800 búfalos, 2900 waterbucks e inúmeras manadas de outros animais como rinocerontes, impalas, zebras e outros. O Parque fechou em 1982 devido à guerra civil entre a Frelimo e a Renamo que durou até 1992. Em 1996 voltaram-se a realizar observações aéreas e apenas encontraram 19 elefantes, 13 búfalos, 10 hipopótamos e nenhum rinoceronte! Leões, chitas, leopardos e wild dogs desapareceram também. Apenas restaram os javalis e crocodilos. Chocante!

Depois do almoço participei num Game Drive numa tentativa de explorar as maravilhas do Gorongosa. O parque é realmente fantástico, aqui a paisagem assemelha-se mais à África dos domingos de manhã, que passa na Sic, com grandes savanas planas e poucas árvores. No que se assemelha em paisagem peca nos animais É visível a falta deles e ao mesmo tempo é fácil de imaginar as planícies de aluvião cheias de manadas de herbívoros a deslocarem-se em busca de novas e verdes pastagens. O nosso motorista, o Adolfo, levou-nos a um ponto elevado onde era possível ver de um lado o pôr-do-sol e do outro os animais a deslocarem-se na planície. Foi simplesmente mágico.

A Gorongosa foi um espaço que se perdeu e o futuro não parece animador, os caçadores furtivos continuam a entrar no Parque e companhias chinesas de exploração mineira que se encontram junto à Gorongosa estão a dar cabo do ecossistema. No entanto acredito que a Natureza consegue dar a volta e que o Parque vai recuperar a riqueza de antigamente.

Até amanhã

29/08/11

Dia 10 - O Dia Mais Longo

23 de Agosto, 2011
Parque Nacional do Gorongosa, Moçambique

Hoje foi o dia mais longo da competição, com cerca de 700km para fazer e uma fronteira pelo caminho. Hoje ia também pela primeira vez a Moçambique, esse país que ouço falar em casa desde que sou pequenino e também o meu primeiro contacto com a África "portuguesa". Devido à grande distância a percorrer, tivemos de sair às 5h e 50m do hotel e portanto não nos foi servido um pequeno-almoço. Como substituição deram-nos uma pequena caixa de comida onde também constaria o almoço. Ao abrir a caixa perdi logo o apetite tal era o aspecto da coisa. À minha frente tinha um croissant, um scone, um queque, 3 salsichas, ovos mexidos, uma banana e uma maçã. Até parece algo completo não fosse estar tudo embrulhado em película aderente! Incluindo os ovos mexidos!

A viagem até à fronteira correu bastante bem. Fomos dos primeiros a chegar à fronteira e estávamos com pressa pois queríamos procurar um mecânico em Tete para tentar colocar o amortecedor no sítio. A entrada em Moçambique é um pouco desoladora, tal como a passagem da Tanzânia para o Malawi. Toda a região norte do país foi muito afectada pela guerra colonial e depois pela guerra civil. As primeiras vilas que se vêem são muito pequenas, não possuem electricidade, nem têm as cores coloridas da publicidade à vodacom e airtel como no outro lado da fronteira. As estradas continuam sem trânsito e continuam-se a ver muitas bicicletas, embora desta vez levem duas pessoas. Normalmente vai o homem a guiar e sentada no apoio traseiro vai a mulher com as compras ou uma criança. Ao chegarmos a Tete as coisas começam a melhorar, vê-se mais gente e mais movimento nas estradas. Actualmente a cidade tem-se desenvolvido bastante com a industria do carvão, possuíndo na sua região importantes reservas hulhíferas. Para ficarem com uma ideia, os hotéis da cidade estão reservados durante meses, incluindo os que ainda estão em construção.

Já em Tete dirigimo-nos à Toyota (tal como na Tanzânia tudo o que tem 4 rodas é Toyota), com esperança que dessem uma vista de olhos no carro, mas não sendo japonês nada feito. Fomos então à garagem ao lado, à Auto Reparadora e o meu pai lá arranjou um mecânico, o senhor Simeão. Acho que sem perceber qual era o real problema do carro disse que se podia arranjar. Lá se tirou o pneu e com o problema à sua frente o senhor Simeão decidiu soldar uma peça para retirar o resto do parafuso que tinha partido. A máquina de soldar é uma relíquia de museu e um autentico milagre de como ainda funcionava. O que é certo é que a ideia do senhor Simeão não funcionou. 2h e 30m depois lá se conseguiu tirar o parafuso e aí surgiu um outro problema: "Senhor Simeão tem aí um parafuso igual?" perguntou o meu Pai. "Ah patrão isso não sei, tem de se ir procurar" respondeu o pobre homem. O meu Pai ficou para morrer. Lá se conseguiu encontrar um parafuso (a julgar pelo aspecto será pré-25 de Abril). Já se fazia tarde e 3 horas depois de entrarmos na garagem, saíamos com o amortecedor no sítio mas menos uma porca. Alguma falta vai fazer no futuro, pois se a tinha é porque era importante, mas lá chegaremos.

A acelerar pelas estradas moçambicanas, tínhamos de fazer 470km em 5 horas, antes que os portões do Parque Nacional da Gorongosa (o nosso local de dormida) fechassem. para quem tinha acabado de meter um parafuso enferrujado e menos uma porca no amortecedor, o condutor não parecia nada preocupado. Lá chegamos a 40 minutos do fecho das portas e com um penalty de 12 minutos por estarmos fora do tempo. Tal como entrar em Moçambique, entrar na Gorongosa foi um bocado triste. Aquele que em tempos foi considerado o melhor Parque africano está neste momento muito diferente e certamente mais pobre mas sobre isso falamos amanhã. Agora vou descansar que hoje o dia foi longo.

Dia 9 - As Avarias

22 de Agosto, 2011
Blantyre, Tanzânia

Antes de começar a falar do dia de hoje, queria apenas partilhar convosco que a carne ontem estava deliciosa. Extremamente deliciosa.

Passando então a coisas sérias, para hoje estavam prometidos 660km até Blantyre, a capital do Malawi e pelo caminho tínhamos direito a um almoço buffet na segunda maior cidade do país, Lilongwe. As velas já tinham sido limpas ontem à tarde, portanto foi só carregar as malas e partir.

Depois de três dias nas estradas da Tanzânia, conduzir no Malawi é uma maravilha. Não há trânsito, as estradas estão em boas condições e livres dos assassinos Dalas Dalas. O único problema até ao momento deve-se a uma greve dos transportadores de combustível que obrigou ao fecho de todas as bombas de gasolina. Felizmente a organização conseguiu um acordo com a BP e há no percurso sítios específicos para se abastecer, um deles à saída de Mzuzu onde enchemos o depósito.

Tudo corria bem, já íamos com 2 horas de viagem quando de repente se ouviu um barulho vindo da traseira do carro e pensei que tínhamos furado um pneu. Parámos e fui dar uma volta ao carro a tentar ver qual seria o pneu, para meu espanto estavam todos direitos. Não vendo nada demais decidimos arrancar. Ao fim de 50 metros o carro parecia esquisito e olhei pelo retrovisor e via fumo branco a sair do pneu traseiro direito. Voltamos a parar o carro e atrás de nós apareceu outro concorrente que ao ver o fumo saiu logo de extintor em punho para tentar apagar o que quer fosse. Não havia chamas, apenas um fumo branco e um cheiro a borracha queimada. Alguma coisa teria de ser. Toca a tirar o macaco da mala, levantar o carro e tirar o pneu (que parecia intacto). À primeira vista tudo estaria normal, pensou-se que o problema seria dos travões, quando decidi ir ver o pneu do lado esquerdo e reparei que algo não estaria bem: ou faltava uma peça do lado esquerdo ou estava uma peça a mais no lado direito. Ficamo-nos pela segunda hipótese e o que estava a mais era o amortecedor que partiu o parafuso de apoio e andava a passear junto à roda (o que também explica o fumo branco: era o plástico de protecção do amortecedor que derreteu em contacto com o pneu). Por sorte acabou por parar um outro concorrente, Rob Kitchen, que ensinou/ajudou a retirar o amortecedor e disse que podíamos fazer alguns quilómetros sem problemas de maior.

Seguimos caminho, parámos em Lilongwe para o nosso almoço e abastecer. Lilongwe é uma cidade nova, com grandes avenidas e também a capital administrativa do Malawi. Em 1998 o Parlamento do país instalou-se num palácio presidencial com cerca de 300 quartos, mandado construir por Hasting Banda, usando fundos estatais e com um custo de 100 milhões de dólares. Já em 2004 e 3 meses após ter sido eleito, o presidente Bingu wa Murtharika converteu o edifício novamente em palácio presidencial e instalou o Parlamento num antigo estádio. O ano passado foi inaugurado o actual edifício que custou 40 milhões de dólares. Quem vê estes valores e passeia pela realidade do país percebe que alguma coisa não está bem.

De estômago cheio fizemo-nos à estrada, ainda sem amortecedor, o que segundo o condutor tornou o carro mais solto e mais rápido. Começou-se então a raciocinar se seria melhor viajar com ou sem o amortecedor. Ainda faltavam 313km e a chegada a Blantyre seria por volta das 17h o que complicava as possibilidades de se arranjar um mecânico. Para complicar mais a coisa, depois de pararmos numa barreira policial (aqui em vez de se realizarem operações stop, estão distribuídas pelas estradas do país barreiras da polícia, do exército e dos serviços alfandegários) o carro não desenvolvia e parecia que estava a travar permanentemente. Hoje parecia que estava tudo contra nós!!

Pensou-se que seriam as velas novamente mas isso só explicaria o porquê de o motor não andar mais rápido, não o porquê de o carro estar a travar. Depois de parármos, levantamos o carro, tiramos a roda traseira esquerda e quando o meu pai se preparava para desmontar o travão traseiro apareceu novamente o Rob. Depois de um rápido diagnóstico chegamos à conclusão que ao se usar o travão de mão na barreira policial, os travões bloquearam e prendiam as rodas. Foi algo simples de resolver, sangrou-se os travões e, segundo consta, o carro está agora mais rápido que nunca (se calhar por estarmos quase sem travões).

Como não há duas sem três, estávamos a menos de 100km de Blantyre e fomos mandados parar por excesso de velocidade. Ao que consta, metade do Rally apanhou esta multa, pois ninguém estava prevenido que pudessem haver radares na estrada, depois de quase 800km sem polícia.

Chegamos quase em cima do tempo a Blantyre mas depois do dia de hoje, quase que se pode dizer que é um milagre estarmos aqui.

Até amanhã

27/08/11

Dia 8 - A Fronteira

21 de Agosto, 2011
Mzuzu, Malawi

Hoje, pela primeira vez desde que me lembro das coisas, passei uma fronteira terrestre à moda antiga: parar no posto fronteiriço do país de partida, preencher os papéis, entrar no carro, passar a barreira, parar no posto fronteiriço do país de chegada, preencher os papéis de entrada, entrar novamente no carro e seguir viagem. Mas já lá vamos.

A noite foi realmente mal passada, a cama não era muito confortável e ao longe havia uma festa onde a música insistia em entrar no meu quarto. Infelizmente o BBQ não ajudou a uma boa noite de sono, nem tão pouco o pequeno almoço que foi servido esta manhã. Ainda antes da partida optou-se por limpar as velas do carro, primeiro porque o motor estava a perder o fulgor que demonstrara no primeiro dia e segundo porque este tem sido um problema recorrente nos outros Volvos portugueses. Era então preciso ir buscar a chave de velas.

Não imagina a trabalheira que dá ir-se buscar a mala de ferramentas que está por baixo do único espaço disponível que tenho para por o meu pequeno saco e a mochila da máquina fotográfica, atrás do meu banco! E perguntam vocês: mas o carro não tem mala? Ter tem mas lá dentro encontramos 1x depósito de gasolina, 1x macaco, 2x pneus sobresselentes, 2x jerricans para água e mais gasolina, 2x calços para pôr nos pneus e 1x tábua de madeira que ainda não percebi para que serve (se isto fosse uma cozinha seria sem dúvida uma tábua de cozinha). Com tudo isto na mala, o sacrificado sou eu que tenho de andar a tirar e a pôr tudo sempre que é preciso apertar um parafuso.

Velas limpas, motor ligado, partida dada e lá vamos nós para mais uma etapa, hoje foram 370km até Mzuzu, no Malawi. A estrada até à fronteira é muito bonita, passeando-se pelo meio de colinas e pequenos vales, todos eles com plantações de chá. As vilas aqui mantém-se afiliadas às redes de telemóveis e as motos continuam a ser mais que muitas. A meio caminho entre o "hotel" e a fronteira o carro voltou a demonstrar problemas no motor e o condutor optou por mudar as velas, colocando as primeiras que teve. O procedimento foi idêntico ao da partida: pôr as minhas malas no chão, tirar a mala das ferramentas, trocar de velas e voltar a arrumar tudo. Volta-se a ligar o carro e ele nem 1 minuto esteve a funcionar antes de se decidir a pôr as velas antigas. Repete-se novamente o mesmo procedimento, as minhas malas voltam a sair do carro, etc. Felizmente as velas aguentaram-se até ao fim do dia.

Antes da fronteira temos uma pequena cidade e mal parámos o carro fomos abordados por 30 indivíduos, todos eles a quererem trocar os nossos xelins por kwachas (a moeda oficial do Malawi), dizendo que é um favor que nos fazem porque do lado de lá os xelins não valem nada. Nada feito, até porque não nos restavam xelins. Confesso que esperava um pouco mais de acção na fronteira, mas foi tudo tão semi-ordenado (felizmente) que me soube a pouco. No final levei mais dois carimbos no passaporte (começo a parecer um viajante a sério).

Percorridos pouco mais de 10km no Malawi e foi possível ver logo o lago Malawi (é o terceiro maior lago de África e ocupa 20% do território do Malawi). Não soubesse que estava a dirigir-me para o interior de África e diria que estava a chegar ao Índico ou ao Mediterrâneo. A paisagem nesta estrada é deslumbrante, com a água do lago num azul intenso, contrastando com o verde da paisagem e o alaranjado das montanhas. A contrastar também esta a realidade da vilas e aldeias da Tanzânia com as do Malawi. Aqui tudo parece mais pobre, as motos dão lugar às bicicletas e deixa-se de ver carros nas estradas, dando lugar a alguns camiões com que nos cruzamos de tempos a tempos. Apesar disso, a estrada tem boas condições e as populações parecem ser mais simpáticas, acenando e sorrindo à nossa passagem.

Mzuzu é a terceira cidade mais importante do Malawi, com cerca de 1,8 milhões a viverem nela e nas suas imediações. O hotel onde estamos é bastante melhor que o da noite passada, sendo fácil prever uma boa noite de sono. O jantar é daqui a pouco e está no menu outro BBQ.

Até amanhã

26/08/11

Dia 7 - O Verdadeiro Inicio

20 de Agosto, 2011
Mbeya, Tanzânia

Depois de 2 dias de descanso maravilhosos chegou a vez de voltar à realidade e recomeçar novamente o rally. Iria ser um dia duro, mais de 600km em direcção a Mbeya, creio que a última grande cidade antes da fronteira com o Malawi.

Acordamos muito cedo, por volta das 5 da manhã e mal tivemos tempo para tomar o pequeno almoço, visto que às 6 estavam à nossa espera no parque de estacionamento para nos levar ao aeroporto. Ao chegarmos aos carros fez-se uma ligeira revisão e num instante já estávamos na estrada a fazer km. A viagem foi muito tranquila, apenas tivemos uma multa de 50.000 xelins da Tanzânia (que foi possível negociar para metade caso não quiséssemos o recibo - isto é África)! Sem contar com a alta probabilidade de o aparelho que ele tinha na mão, semelhante a um secador mas sem a saída de ar, não funcionar. Agora tentem imaginar um tipo vestido de policia a saltar do nada para o meio da rua a apontar-nos um secador! Alguém o levaria a sério?

Enfim... Nesta viagem pude ainda alargar um pouco a imagem que tinha da Tanzânia, pensei que isto era um fim do mundo, sobretudo no interior, mas a realidade não é essa. Ao contrário da região do Kilimanjaro com as suas cidades coca-cola/pepsi, aqui, ,no Sul da Tanzânia, as vilas foram rendidas aos telemóveis (temos então as cidades vodacom, airtel e mtn). Toda a gente tem um e na rua vêem-se pessoas tipo a ouvir música com o telemóvel, tirar fotografias com o telemóvel, a fazer chamadas enquanto conduzem. Não fosse estar noutro hemisfério e diria que estava na Europa.

Por fim, quanto mais nos deslocamos para o interior vemos menos Dalas Dalas e mais motas, daquelas baratas chinesas todas com cores psicadélicas tipo roxo ou verde, surgem no horizonte. Estas só circulam pelas bermas, raramente atrevendo-se a meter as rodas no meio da estrada. Será que os tanzanianos pensam que aquela linha contínua da berma divide a estrada em dois corredores?

Mzuzu, o nosso destino, é uma das tais vilas rendidas aos telemóveis. Algures lá no meio tem um resort onde era suposto ficarmos a dormir e que não é certamente o hotel onde estamos, pois se isto é um resort, não quero imaginar uma pensão. Só quero deixar esta imagem: a casa de banho tem um chuveiro, mas este não possui base, ao invés disso o chão da casa de banho é inclinado e tem um ralo no meio. O jantar foi bastante mais agradável, consistiu num BBQ ao ar livre, com direito a danças tradicionais da região. Nada como uma boa refeição para fazer esquecer uma possível péssima noite de sono.

Até amanhã

24/08/11

Dia 6 - O Passeio no Rio

19 de Agosto, 2011
Selous Game Reserve, Tanzânia

Jambo!

A manhã de hoje foi muito relaxada. Como não havia nada planeado houve tempo para fazer a lavandaria, terminar de ler o "Encontros Marcados", alguma piscina e convívio com o resto dos participantes do Rally. O tempo tem estado bastante agradável pois está ligeiramente nublado o que ajuda a manter um ar respirável e fresco. Fomos almoçar e depois como combinado, encontramo-nos todos no parque de estacionamento com o Cristopher e os outros guias para um passeio de barco no Rufiji.

Tivemos de nos separar em dois barcos e lá fomos, primeiro rio acima até uma zona com rápidos e onde era impossível continuar. O rio apresenta uma paisagem incrível, começando com uma zona muito larga com alguns bancos de areia e por fim vai estreitando até se enfiar num vale escarpado com dezenas de metros de altura. Os animais que víamos eram na sua maioria hipopótamos e crocodilos. Os primeiros sempre enfiados dentro de água, com a cabeça de fora, e os crocodilos mantinham-se nas praias ou bancos de areia a apanhar banhos de sol. Estava com esperanças de ver pelo menos um com cerca de 4 metros mas o maior que vi não devia ter muito mais que 2 metros. Fiquei também triste por não ter visto nenhum leopardo que por vezes, se deslocam até perto do rio para se aquecerem ao sol.

Depois de darmos a volta, fomos rio abaixo, entrando na sua parte mais larga e fomos dar de caras com um festim: um grupo de crocodilos deliciava-se com os restos de um hipopótamo morto (o que é raro acontecer porque os crocodilos deste rio não caçam hipopótamos, alimentando-se sobretudo de peixes). Ao contrário dos leões de ontem, que pareciam muito organizados, estando a comer um de cada vez, aqui eram 3 ou 4 crocodilos perto da carcaça e mais uns 7 ou 8 à espera da sua vez.

Após uns minutos a assistir a este espetáculo, fomos levados para uma praia deserta, sem crocodilos e com alguns hipopótamos na água, onde estavam umas cadeiras para nos sentarmos e foi servido um pequeno lanche enquanto assistíamos ao pôr-do-sol. Foi um momento de convívio muito bom, com um cirurgião italiano a contar piadas e toda a gente bem disposta. Logo o sol se pôs toca a voltar para os barcos que aqui escurece muito muito rápido. De volta ao hotel fomos descansar porque amanhã o dia será muito puxado: acordar as cinco da manhã, ir apanhar um aparelho que já foi um avião, preparar os carros e fazer cerca de 600km. Vai ser dose! O que vale é que hoje deu mesmo para relaxar.

Até amanhã

22/08/11

Dia 5 - O Safari

18 de Agosto, 2011
Selous Game Reserve, Tanzânia

Como combinado, às 7h e 30m estávamos no parque de estacionamento preparados para conhecer aquela que é a maior reserva natural de África, cerca de 50.000 km2 (o dobro da Bélgica!), equivalente a 5% da área total da Tanzânia. É alimentado pelo rio Rufiji, que passa por baixo da minha varanda neste momento, um dos maiores rios da África Oriental, e é o lar de cerca de 1.000.000 de animais de grande porte. Conclusão: muita coisa para ver.

Depois de "encharcado" em repelente, Cristopher meteu pedal a fundo e lá fomos nós levantar poeira para a savana africana. Ao fim de uma hora e meia só tinha visto dois tipos de animais, uma família de elefantes que iam "minando" a estrada conforme passavam e mosquitos. Enquanto que os primeiros eram uns 5 ou 6 (incluindo um pequenino Dumbo do qual infelizmente não consegui uma foto), os últimos eram milhares, chatos, vinham de todo o lado e paravam em todos os mm² do meu corpo que não tinham vestígios de repelente. Durante o resto da manhã foi um fartote de animais:

- Girafas - são de rir quando começam a correr, parece que estão em câmara lenta, embora consigam correr bastante rápido. Vimos bastantes, normalmente em grupos de 5 ou 6, e fugiam sempre mal ouviam o carro.

- Zebras - as crinas sempre de pé (como se usassem laca) fazem-me lembrar os capacetes dos romanos que se vêem em inúmeras representações.

- Impalas - são às centenas, sempre medrosas, mas sempre engraçadas com um pequeno rabinho de um lado para o outro. Enquanto umas comem, outras estão de cabeça erguida em busca de ameaças.

- Javalis - (já falei sobre eles ontem) estes vi em menor número que os anteriores, mas sempre em grupos de 4 ou 5.

- Hipopótamos - são sempre muito engraçados com as suas orelhas pequeninas fora de água a dar a dar. Ao perto não consegui ver nenhum, mas dentro de água cheguei a ver grupos com cerca de 10/12 indivíduos. Mantém-se dentro de água para regular a temperatura corporal e saem durante a noite para procurar mais alimentos.

- Crocodilos - vi imensos, sobretudo pequenos. O Cristopher disse-me que neste parque chegam a um tamanho máximo de 4 metros, mas no Serengeti, mais a norte, alguns indivíduos podem ter 6/7 metros. Alguns davam uns belos pares de sapatos.

Por fim chegou a vez dos leões. Andamos numa região onde é comum eles aparecerem, mas só ao fim de uns 30 minutos, fomos dar com eles a deliciarem-se com um búfalo que tinham caçado umas horas antes. Este festim só pode ser descrito com o uso de fotografias, mas tentem imaginar um búfalo deitado de barriga aberta e um leão com a cabeça enfiada dentro dele à procura de partes melhores para comer, enquanto que outros 3 estavam espreguiçados ao sol. São autênticos gatos mas maiores e não comem ração. Durante a tarde acabamos por encontrar uma outra família de leões, maior, e com dois pequenos Simbas! Nunca pensei que fosse possível estar tão perto destes animais, claro que não deviam estar esfomeados senão tinham em nós 5 boas refeições entregues ao domicílio, mas parecem ser tão pacíficos que dá vontade de saltar do carro para estar com eles. Houve ainda tempo, no caminho para o hotel, para mais girafas, zebras e impalas. Ficaram a faltar mais elefantes e rinocerontes, mas também não se pode ter tudo.

Ao fim do dia ficamos a saber que amanhã temos a manhã para descansar e que durante a tarde está planeado um passeio no rio Rufiji. Promete.

Até amanhã

21/08/11

Dia 4 - O Início

17 de Agosto, 2011
Dar es Salaam, Tanzânia

E tudo começou...

Não sem um ligeiro atraso da equipa portuguesa que quase perdeu o pequeno almoço e mais uma vez sentiu a pontualidade britânica! Abdicamos sim de assistir às danças tribais da Tanzânia que animavam a partida. O primeiro dia prometia, tínhamos 3 horas para percorrer cerca de 200km, até Morogoro, em que 10km eram na selva urbana de Dar es Salaam e os restantes numa floresta mais temperada que é o trânsito na Tanzânia em geral.

Lembram-se do que disse ontem sobre os meus profundos conhecimentos sobre navegação? Entretanto devo ter recebido uma revelação qualquer e de repente, da noite para o dia, o Road Book (livrinho que tem as instruções para se ir de Dar es Salaam para a Cidade do Cabo) passou de chinês a inglês e de complicado a como montar um Lego. Lembram-se ainda da falta de flexibilidade do piloto? Revelou-a no seu melhor quando falhei uma viragem à direita por causa do terratrip... Não fui eu que errei, foi o terratrip e aí concluí que o aparelho perde cerca de 1,5km a cada 100km. Lá acabamos por chegar ao ponto de encontro, dentro de uma fábrica de tabaco, onde os carros vão ficar nos próximos 3 dias, e nós vamos para um lodge no Parque Nacional de Selous (se a cada 200km vamos para um lodge e ter 2 dias e meio de descanso, isto promete!!).

Nem tempo tivemos para desligar o carro e já estávamos dentro um Dala Dala, que nos transportou a algo que se aproxima de um aeródromo (apenas porque continha algo que se assemelhava a aviões). Seguiu-se um vôo de 1h, com uma vista aérea impressionante sobre a savana africana. Ao aterrar fomos recebidos com sumos de fruta e um almoço incrível (isto promete cada vez mais!).

Depois do repasto fomos apresentados ao Christopher, o nosso guia durante os próximos 3 dias, e ao volante do seu Toyota Land Cruiser (ainda não partilhei convosco, mas a Tanzânia é o país Toyota, segundo as minhas contas, em cada 100 carros 95 são Toyotas) fomos dar um pequeno passeio pelo parque e ver todos aqueles animais que povoam os nossos jardins zoológicos. Conseguimos encontrar elefantes, girafas, zebras, javalis (que como o famoso Pumba, passeavam com a cauda no ar), impalas, hipopótamos e por fim, mesmo ao fim do dia, encontramos um leão, já velhote mas satisfeitíssimo, deitado a aproveitar os últimos raios de sol.

Recolhemos ao lodge, combinamos as horas para o dia seguinte, umas razoáveis 7h e 30m (quando o John e a Gennie, um casal de americanos que estavam no mesmo carro queriam acordar as 6h!!). Amanhã é dia de grande Safari (cerca de 8 horas), com direito a piquenique pelo caminho.

Até amanhã

Dia 3 - A preparação

16 de Agosto, 2011
Dar es Salaam, Tanzânia

Hoje foi o primeiro dia de acção.

Antes do pequeno almoço, às 8h e 30m, fez-se o check in no evento, recebi a minha tabela de tempos e uma folha que nos ia guiar entre o armazém onde estavam os carros e o hotel. Depois foi só esperar que um Dala Dala nos fosse buscar, o que aconteceria às 9h e às 10h e 30m. Decidimos-nos ir no primeiro mas como bons portugueses achamos que não sairia em cima do tempo, portanto quando chegamos às 9h e 5m percebemos que a organização do evento é realmente britânica.

Ao chegar ao armazém os carros lá estavam bonitinhos (que pena ainda não conseguir meter fotografias no blog), sem nenhum estragos e com os óleos todos no níveis. A nossa única preocupação neste momento era encher o depósito visto que o ponteiro nem se mexeu ao se ligar o carro. Assinamos os papéis, recebemos o carro e restava-nos 30 minutos na selva urbana de Dar es Salaam. Foi a minha primeira experiência como navegador e pensei que se isto fosse assim até ao Cabo desistia ao fim do segundo dia (ainda por cima o condutor não é muito tolerável a erros).

Eis o que sabia sobre navegação quando saímos para a estrada:

- Nada. Um dos problemas dos jogos de computadores é que essas coisas são todas automáticas, só aparece uma seta a dizer esquerda ou direita. Aqui tenho de usar um livro com setas e números. Para me auxiliar tenho à minha frente um pequeno aparelho chamado terratrip, que mostra uns números engraçados numa contagem crescente muito muito rápida, e sobre a qual não fazia a mínima ideia de co o trabalhava (talvez os litros de combustível que se gastaram?!)

Um milagre qualquer aconteceu e chegamos ao Hotel, vivos, sem lesões mas com um fusível partido - o da buzina (sabem que tenho um botãozinho muito giro ao lado meu pé esquerdo que faz a buzina apitar? é muito útil quando o pendura também se irrita com o tipo que acabou de se atravessar à frente do carro)! O piloto decidiu também que o motor não estava bem e decidiu mudar as velas, enquanto eu descobria que o terratrip conta a distância percorrida e não litros de gasolina ficam a saber. Assim suspirei de alívio ao saber que o carro onde vou estar durante as próximas 3 semanas não vai destruir o planeta terra em 7 dias!

Seguiram-se algumas reuniões chatas sobre como funcionam as coisas chatas deste evento: os tempos, os pontos de controle e já não me lembro que mais...
Ao jantar foi oferecido uma jantar de boas vindas em que as bebidas eram pagas à parte (o vinho ainda se compreende, não se vai querer começar o rally com uma ressaca, agora uma garrafa de água? Num jantar oferecido pela organização? Não sonham o balúrdio que se paga só para se inscrever neste evento e nem sequer uma garrafa de água oferecem). Cheio de sede fui-me deitar porque o dia seguinte queria estar preparado!

Até amanhã


20/08/11

Dia 2 - O Descanso

15 de Agosto, 2011
Dar es Salaam, Tanzânia

Após o dia de ontem, hoje dediquei-me a um intenso e merecido descanso, aquilo a que os italianos denominam como "dolce fare niente". O meu dia foi bastante tranquilo resumindo-se a acordar tarde, umas horas na piscina, um passeio pela cidade e mais umas horas na piscina.

Dar es Salaam é a capital da Tanzânia, tem cerca 2,5 milhões de habitantes (a Tanzânia tem perto de 41 milhões) e é uma cidade agradável, pelo menos a zona envolvente do hotel é agradável. Foi fundada por árabes em 1860 mas só se desenvolveu na realidade com a ocupação alemã, que a elevaram a capital da região. Apesar de ter alguns prédios modernos hediondos, a maioria dos edifícios são casas ao estilo colonial com 2 andares. Colado ao hotel tem lugar o tribunal de recurso da Tanzânia que não fosse uma placa a informar, passaria por uma casa perfeitamente normal. A vida aqui é bastante simples: os passeios são para estacionar; as bermas das ruas fazem de passeio; as passadeiras são onde uma pessoa quiser; os peões são o alvo a abater por parte dos condutores; a prioridade à direita (neste caso esquerda porque aqui se conduz como em terras de sua majestade) é inexistente, dando lugar à prioridade do primeiro a chegar; enfim é um milagre estar vivo após 2 horas de passeio nesta selva que é o trânsito na Tanzânia!

Nos poucos passeios com árvores, torna-se impossível estacionar, florescendo todo um comércio ambulante. Há carrinhos a vender fruta, pequenas discotecas móveis iguais às que se vê pelas feiras portuguesas mas em formato carrinho de mão e com os maiores sucessos tanzanianos, vendedores de sapatos em couro, engraxadores de sapatos (que a julgar pela quantidade de chinelos que tinham ao seu lado, as pessoas calçam enquanto os sapatos ficam a engraxar) e imensas outras mesinhas a vender tudo e mais alguma coisa. A maioria (para não dizer quase todas) das lojas dedicam-se à venda de telemóveis e são geridas sobretudo por indianos. É incrível a quantidade de telemóveis que se vêem e ouvem na rua. Ouvi hoje pela primeira vez o chamamento de um Imã e é fantástico a maneira como se difunde e mistura no ruído urbano!

De volta ao hotel, regressei à minha piscina e ao meu dolce fare niente!

Durante o jantar juntamo-nos a outros participantes do rally, que entretanto chegaram: conhecemos novas pessoas, ouvimos histórias de outros eventos e preparamo-nos para no dia seguinte ir buscar os carros.

Até amanhã ;)

16/08/11

Dia 1 - Jambo Kilimanjaro


14 de Agosto, 2011
Dar es Salaam

O fim de tarde de ontem foi dedicado ao descanso e relaxamento, após quase dois dias enfiado num avião... Mas acabou cedo, porque às 5h e 30m, uma hora antes de ser servido o pequeno almoço do hotel, estava um transfer à espera para nos levar (a mim, ao meu Pai e a dois amigos dele) novamente ao aeroporto, onde comemos uma fatia de bolo manhoso e um sumo de pacote! Desta vez a viagem de avião foi mais curta, cerca de 1h e 20m depois estávamos no Kilimanjaro International Airport, para irmos precisamente fotografar o Kilimanjaro!

À nossa espera estava um motorista e também Amani, o nosso prestável guia que nos ia levar a passear pelo parque nacional do Kilimanjaro! No caminho do aeroporto até ao Parque a minha perpesctiva sobre África mudou.. Cada establecimento comercial, seja uma mercearia ou um talho, tem o seu nome patrocinado pela coca cola ou pela pepsi (por vezes ate das duas marcas). Se agora tentarem imaginar que cada espaço de uma casa, um anexo ou uma barraca de madeira pode ser um bar, loja, talho, mercearia, etc., tentem imaginar a quantidade de placares vermelhos e azuis que se vê no meio da savana!!

Chegados ao Parque, Amani fez o check in (Amani conhecia bem o Portugal do Ronaldo, Figo, Mourinho, Nani, Villas-Boas, mas tenho de confessar que me surpreendeu quando falou de Vasco da Gama que esteve por estas bandas no século XVI!), compramos uma garrafa de água para cada um e preparamo-nos para a subida (na realidade ninguém se preparou porque todos pensamos tratar-se de um pequeno passeio pela montanha)! Três horas, a 2700 metros de altitude e uma caminhada desumana de cerca de 9km por um trilho no meio da selva africana, foi possível ver o Kilimanjaro... Ou pelos menos o local onde ele estaria caso não estivesse nevoeiro! Sabem o nevoeiro que se faz sentir à beira mar durante as primeiras horas do dia e que não se vê um palmo à frente do nariz? Algo do género estava entre mim e a maior montanha africana, uma das maiores do mundo... Nem vos passa pela cabeça a quantidade de calão que inventei durante as duas horas que demoramos a descer até à entrada do Parque. E ainda por cima tivemos de abdicar de um almoço, que estava incluído no pacote da viagem, para termos tempo de ir lá acima tirar fotografias a nevoeiro!!! Até nas cervejas da Tanzânia, as Kilimanjaro se vê melhor do que aquilo que eu vi... mas a ironia do destino é que o único quadro do quarto do hotel é precisamente o Kili!

Descida feita, viagem para o aeroporto, 1h e 10 m de avião, 40 minutos no caminho de volta para o Hotel e fomos jantar pizza no hotel (finalmente uma refeição decente!). Foi aí que aprendi a minha primeira lição africana, spicy quer mesmo dizer picante, e quando uma pizza diz que é spicy, é mesmo muito picante! Imagino um cozinheiro a trocar de propósito a polpa de tomate por tabasco e a querer lixar a noite a um tipo... Pois a mim lixou-me!

Até amanhã!


P.s. - Com Amani aprendi um pouco de Swahili, a língua local da Tanzânia. Jambo, como esta no título, é o equivalente ao nosso olá!

(devido a problemas técnicos não estou a conseguir colocar as fotografias, amanhã vou mudar de hotel e espero conseguir ir actualizando os posts com as respectivas fotografias!

Dia 0 - A viagem

(após 4 dias em Dar es Salaam, finalmente consegui arranjar internet!!)

13 de Agosto, 2011
Dar es Salaam, Tanzânia

Bem, a maior parte do dia de hoje foi passado dentro de aviões portanto não tenho muito que escrever... no entanto foi um dia de estreias para mim, muitas estreias:

- Estive pela primeira vez na Alemanha (mudança de avião em Frankfurt)
- Pus os pés na Ásia, mais concretamente em Doha, capital do Qatar (também mudança de avião)
- Cheguei a África onde também nunca tinha estado
- Estive em 3 continentes diferentes em menos de 24 horas
- Vi o Índico pela primeira vez
- Vi um deserto (ou pelo menos uma grande área com areia, onde não se vivia qualquer indicio de civilização)
- Nunca tinha voado na Lufthansa, nem na Qatar Airways

Após ter passado a maior parte da noite a tentar dormir entre Frankfurt e Doha cheguei ao Qatar por volta das 6 da manhã ( e já estavam para aí 30 graus)!! O aeroporto ainda está em obras e encontra-se dividido em 3 terminais separados, andando-se de autocarro entre eles. No terminal em que fiquei, saliento a presença de salas de orações em separado para homens e mulheres, nursery, clínica, salas de reuniões e um grande salão com 3 balcões diferentes de comida!

Depois restaram mais 6 horas de viagem até à Tanzânia, 40 minutos para conseguir o visto e livre do ar condicionado do aeroporto, senti o calor de África! Tínhamos um motorista à nossa espera para nos levar ao Hotel e durante o percurso foi possível perceber que a vida aqui é bem diferente do que estamos, tudo tem o seu tempo.. Não vale a pena stressar, apenas sorrir e continuar a vida:

Até amanhã!!

12/08/11

Preparação - O Saco


Daqui a algumas horas vou partir em direcção a Dar es Salaam, capital da Tanzânia, onde no dia 15 se vai iniciar a primeira etapa do Rally.

Preparar um saco para 1 mês fora de casa não é fácil, mas também não é impossível. Com algum detergente e a possibilidade de se lavar a roupa pelo caminho fica tudo mais facilitado, assim como a noção de que será um rally e não umas férias turísticas onde se muda de roupa a cada 6 horas ;)


Fica aqui então uma lista do que já está embalado e pronto a seguir:
- 7x Pares de boxers
- 8x Pares de meias
- 4x T-shirts

- 4x Pólos
- 1x Polar (para quem não sabe parece que faz frio por lá)
- 3x Pares de calças Transformers (transformam-se em calções)
- 1x Par de sapatilhas
- 1x Par de havainas
- 1x Calças e camisa para jantar de gala
- 1x Fato de banho
- 1x Toalha de praia (pequena e maleável)
- 1x Carregador de telemóvel
- 2x Livros - "O Expresso da Patagónia" de Paul Theroux e "Encontros Marcados" do Gonçalo Cadilhe.
- 1x Fotografia da namorada
- 1x Bolsa de toilette (escova e pasta dos dentes; protector solar; after sun; máquina de barbear; desodorizante; perfume; stick picadas; repelente)
- 2x Caixas de comprimidos para a malária
- 1x Caixa de comprimidos para a "famosa" diarreia do viajante
- 1x Chapéu
- 1x Óculos de Sol
- 1x Adaptador de tomadas
- 2x Mini-lanternas
- 1x Kit contra insectos
- 1x Bolsinha à prova de água


E aqui está o bonito serviço, coube tudinho aqui dentro:

 
E agora vou acabar de me arranjar que ainda tenho de preparar a mochila ;)

11/08/11

Apresentação

Porto, 11 de Agosto de 2011

Bem-vindos a todos a este blog que vai servir como uma espécie de diário no decorrer daquela que será sem dúvida umas das maiores aventuras da minha vida, o The Classic Safari Challenge 2011.

Esta viagem de cerca de um mês vai-me levar a passear pela costa sudeste de África, visitando diferentes países como a Tanzânia e o Malawi, passando por Moçambique e acabando na África do Sul, mais concretamente em Cape Town.

Acredito que vai ser uma experiência única e incrível, onde vou poder conhecer pessoas interessantes; ver paisagens fantásticas; observar vida selvagem no seu habitat natural (e não no jardim zoológico); ultrapassar fronteiras físicas, culturais e pessoais; chegar até ao outro lado do mundo (Cape Town). E tudo isto a bordo de um fantástico Volvo 164 de 1973, totalmente preparado para a aventura (embora haja 90% de possibilidade de ele não pegar quando lá chegarmos, mas isso irão ser outras histórias) e conduzido pelo meu Pai (espero que por mim também).

A minha vontade é de colocar um post diário, sempre que isso seja possível, para partilhar com todos as peripécias, aventuras e emoções que senti/vivi, assim como uma ou duas fotografias que tenham marcado o dia.

Aproveito agora para explicar algumas das funcionalidades do blog: na barra em cima irão encontrar 4 separadores. O primeiro serve para voltarem à página inicial do Blog; o segundo, como o nome indica, está relacionado com o carro, possui um pouco de história sobre o mesmo, algumas fotografias (que serão colocadas no futuro) e irá apresentar uma lista das avarias ao longo do percurso; no terceiro separador encontram um pequeno roteiro que tentei reproduzir o mais fiel possível com o Road Book fornecido pela organização; no quarto separador irão encontrar as fotografias que for tirando ao longo desta saga africana; por fim o último separador redireciona para o site da organização do evento, a Endurance Rally Association.

Espero que se divirtam e que procurem este Espaço para me irem acompanhando nesta minha aventura por África...